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Tênis em economês

Hoje vou tratar de um assunto polêmico, intitulado pela Revista Runner's World Brasil de A guerra dos tênis, mas pretendo dar outro contexto para o tema. Ressalto que se trata de uma hipótese para exercitar um pouco do que estudei sobre economia na faculdade.

Analisando de forma superficial o problema, podemos dizer que enfrentamos o seguinte dilema: agradar aos consumidores, ou manter empregos.

Esta confusão se deve a forma como a China cresceu e sua capacidade de produção, que tem derrubando os mercados mundo a fora, inclusive o de fabricação de tênis de alto desempenho. O custo de produção na China é tão baixo que as fábricas de tênis de alto desempenho (para nós, tratam-se dos calçados que custam acima de 400 reais) que existiam em diversos países foram fechadas e praticamente toda a produção centralizada na China. Entre os inúmeros motivos para o tênis chinês ser o mais lucrativo para os fabricantes podemos dizer que a hora/trabalho, se não for a menor, é uma das menores do mercado. Juntando a esta conta impostos reduzidíssimos e a leis do trabalho no mínimo mais permissivas que as nossas, temos uma linha de produção de tênis com custo praticamente imbatível.

A alternativa do governo, percebendo o movimento desleal, é sobretaxar os produtos que vêm daquele país, para que estes sejam vendidos na mesma faixa de preço que os fabricantes nacionais são capazes de oferecer. Sem esquecer que as empresas nacionais têm compromissos com impostos e salários mais altos que os praticados na China entre outros fatores.

O papo técnico foi para mostrar que a questão é realmente complexa. Mas o que interessa mesmo dizer para você que me lê é que a relação entre taxa de importação e empregos em solo brasileiro é direta. Quanto maior a taxa de importação, maior a probabilidade de manutenção dos empregos. Encarecendo o tênis importado com a sobretaxa, o governo tenta equilibrar o jogo. Mas precisamos lembrar que existem dois grupos de interesses distintos neste universo do tênis: um que ajuda a produzir o tênis nacional e outro que não tem nada a ver com isso.

O grupo dos que produzem precisam encarar o fazer mais com menos, enquanto o sol nascer redondo, ou até alcançar um nível de excelência produtiva capaz de enfrentar os preços chineses. Se isso não acontecer, a intervenção do governo continuará sendo necessária para salvar a produção nacional. Quem perde com isso sempre é o povo. Mantendo os empregos, aqueles que desejam possuir o tênis de alto desempenho vêem-se obrigados a pagar mais caro no mercado nacional, ou encontrar meios de importar mais barato, se expondo ao risco até de não receber o produto. Por mais que o e-commerce tenha se desenvolvido, onde podemos atestar a idoneidade das lojas virtuais internacionais? Que leis nos protegerão caso venhamos a ter problemas na compra de mercadorias? Estas são duas entre muitas perguntas que ainda não tenho resposta e nem sei se terei.

A verdade é que não podemos muito mais do que torcer pelo desenvolvimento da indústria nacional, pois ela encontrando uma forma de oferecer seus tênis com um preço mais competitivo (apesar de parte da matéria prima ser importada também), ambos (cadeia produtiva e consumidor) ficarão satisfeitos. Quanto mais eficiente for a produção nacional, mais chances teremos de ver os importados mais baratos, pois reduzirá diretamente a participação do governo no preço final.

Só que o preço está intimamente ligado a demanda sobre o produto. Aumentando a demanda sobre um produto, aumenta-se a produção. Aumentando-se a produção é possível distribuir o lucro e reduzir a margem em cima do preço final. Mas se a demanda aumentou sobre o tênis nacional, significa dizer que o interesse aumentou também. Então, no futuro, quem desejará o tênis importado?

Na verdade vejo uma parte da população lutando pelo ganha-pão, enquanto outra reclama o croissant. No fundo, no fundo, ambos os lados só querem ser felizes, cada um a seu modo.

Sugestão para placa de advertência: Corredores na pista

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